Análise: Red Bull Brasil e outros casos
Há muito tempo vejo com certo incômodo a postura da Rede Globo e suas afiliadas ao suprimir/abreviar/esconder/modificar nomes de competições, eventos, arenas ou equipes que levem consigo a identidade de empresas. Esta postura é justificada pelo fato de tais empresas não serem anunciantes, não devendo, portanto, serem beneficiadas por esta “propaganda”.
No domingo, 25 de janeiro de 2015, um exemplo muito claro aconteceu na transmissão do jogo entre Palmeiras e Red Bull Brasil, pela SporTV. Ou seria entre Palmeiras e “RB Brasil”?
A emissora simplesmente decidiu se referir à equipe gerida pela Red Bull, que desde sua criação subiu ano a ano pelas divisões do Campeonato Paulista e em 2015 disputará a primeira divisão, para não citar o nome da empresa mundialmente conhecida. Aliás, da mesma forma como já chama a “RBR” nas transmissões de Fórmula 1. RBR = Red Bull Racing
No mesmo jogo, outro exemplo: a nova arena do Palmeiras, tida como uma das mais modernas do país, trabalha com um conceito de marketing que considero muito valioso chamado naming rights. Por um valor de patrocínio que é MUITO grande, uma empresa assegura o direito de nomear um estádio, por exemplo, como é o caso do clube paulista, cuja nova casa se chama oficialmente Allianz Parque. Porém, para a transmissão da SporTV, o nome do estádio era “Arena Palmeiras”.
Este tipo de postura colabora para o atraso que temos no esporte – e mais especificamente no marketing esportivo – no Brasil. Por que uma empresa investirá centenas de milhões em um contrato de longa duração se souber que a principal vitrine daquele esporte irá ocultar seu nome? Este é um dos motivos para que muita gente veja como novidade a prática de naming rights no Brasil, sendo que nos Estados Unidos e na Europa isso já é notícia velha, mas continua rendendo centenas de milhões de dólares e euros e aquecendo o mercado.
Podemos voltar ao caso do Red Bull Brasil, agora para uma breve reflexão e uma constatação. Vamos a elas:
- A Red Bull, maior marca de bebidas energéticas e uma das maiores fomentadoras de esporte e cultura no mundo hoje em dia, faz um grande trabalho neste clube paulista. Diferente dos naming rights, o clube pertence à marca, foi criado e é totalmente gerido por ela. Nas dependências do time moram mais de 100 garotos que desde as categorias de base recebem estudos básicos, ensino de línguas estrangeiras e condições de pavimentar um futuro promissor – no futebol ou fora dele. Será que dói tanto no bolso de uma gigante como a Rede Globo citar algumas poucas vezes o nome da empresa?
- Agora a constatação: justamente esta postura de esconder o nome do time foi o que gerou uma enorme repercussão na internet. Quem já conhecia o clube reclamou e quem não conhecia, passou a conhecer. O fato ocorreu no domingo, hoje já é quarta-feira e basta uma busca rápida no Google para ler diversas notícias e opiniões. Se formos pensar bem, ao “rebatizar” o Red Bull Brasil, a Globo acabou gerando um enorme volume de engajamento na internet, fato que com certeza as grandes cabeças do marketing da “RB” saberão ver o valor, pois esta é uma empresa que sabe como se relacionar com seus admiradores.
Enfim, sou quase sempre “pró-Globo”. Acredito que a emissora e seus “braços” estão muito à frente dos concorrentes, que seus produtos e profissionais de uma forma geral são de uma qualidade absurda, de encher os olhos. Porém, nem tudo é perfeito, e mesmo com a admiração que tenho por esta gigante, vejo este ponto negativo que poderia ser repensado.
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